sexta-feira, 3 de março de 2017

A BÍBLIA - INFORMAÇÕES GERAIS - 4ª Parte

Traduções da Bíblia:

A Sagrada Escritura
A Sagrada Escritura foi, ao longo dos séculos, sendo traduzida em diversos idiomas para favorecer seu anúncio e estudo. Na língua portuguesa existem atualmente inúmeras traduções, tanto nas Igrejas da reforma protestante, como na nossa Igreja Católica Apostólica Romana. Uma das mais conhecidas e mais utilizadas é, sem dúvida, a Bíblia Sagrada, edição pastoral, da Paulus. Para estudos mais profundos e mais científicos as recomendadas são a Bíblia de Jerusalém e a Bíblia do Peregrino. Mas vamos saber um pouco mais sobre a história das traduções dos textos bíblicos.

LXX ou Setenta ou Septuaginta:
Já vimos que a Bíblia surge das Sagradas Escrituras hebraicas, que eram conhecidas como TaNaK, contendo os Livros da Lei, os Livros Proféticos e os Escritos.

A mais antiga e importante tradução da Bíblia é a versão da língua hebraica para a grega, realizada aos poucos, entre o século III e o séc. I a.C., em Alexandria, no Egito. O nome SETENTA vem da lendária carta do século II a.C., (sem nenhum fundamento histórico), onde se afirma que a tradução grega foi feita por 70 rabinos a pedido do Faraó do Egito, Ptolomeu II Filadelfo (285-247) a.C., para a biblioteca de Alexandria. Daí o título: Tradução ‘dos SETENTA interpretes’.

É certo, porém, que no século III a.C. iniciou-se em Alexandria, no Egito, uma tradução da Bíblia para o grego. Essa tradução foi feita porque havia ali uma grande colônia de judeus que já não conseguiam ler o texto sagrado em hebraico. Tinham, portanto, necessidade de um texto bíblico que fosse compreensível, visto que falavam grego.

Começaram pelo Pentateuco (Lei) devido a sua importância. Seguiu-se depois a tradução das outras partes da Bíblia hebraica, os Profetas e os Escritos. 
Além de traduzirem os 39 livros da Bíblia Hebraica, os responsáveis pela versão grega acrescentaram outros 7 (sete) livros novos: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria, I e II Macabeus.

Também colocaram uma nova numeração nos Salmos. Por isso, em nossas Bíblias, os Salmos contêm dois números. O número maior é sempre o da Bíblia hebraica. O número menor, da Bíblia grega. Normalmente é colocado entre parênteses. Ex:. Sl. 39 (38).

A Setenta tornou-se a Bíblia da Igreja Católica, portanto o número menor do salmo é o nosso, católico.

Targum:
Desde a volta do exílio da Babilônia, no ano 538 a.C., os judeus falavam aramaico. Mas o hebraico continuou sendo a língua dos Livros Sagrados. Assim, nas sinagogas, o texto bíblico era lido em hebraico e imediatamente traduzido para o aramaico. Essas traduções receberam o nome de TARGUM (plural Targumim). Só a partir do final do século I d. C. é que se começou a redigir Targumim. Ao lado, uma página do Targum, com os texto hebraico traduzido para o aramaico.


Vetus Latina:
Quando o Latim tomou o lugar do grego na Igreja, começaram a surgir traduções latinas. É impossível saber quantas traduções foram feitas, mas convencionou-se chamá-las de VETUS LATINA a qualquer tradução latina do Antigo Testamento anterior à Vulgata.

O grande número de traduções produziu enorme diversidade de interpretações pelos tradutores, surgindo contradições entre os vários textos existentes, causando dificuldades aos leitores e estudiosos. Tal situação reclamava que se chegasse à unidade do texto bíblico, evitando-se que surgissem ambiguidades e heresias. 



Vulgata: 
A grande confusão dos textos latinos levou o papa Damásio I (366-384 d.C.) a propor um texto único para toda a Igreja. Encarregou São Jerônimo, famoso por seus conhecimentos bíblicos e linguísticos, de rever a Vetus Latina com base no texto grego. O novo texto latino recebeu o nome de VULGATA.

A Vulgata segue o cânon ou a lista dos livros da Setenta, com 46 livros para o Antigo Testamento, e acrescentou os 27 livros do Novo Testamento.

É muito provável que as primeiras edições da Vulgata surgem ainda em pergaminho, resultado do trabalho dos copistas, que eram os responsáveis por replicarem o texto original de São Jerônimo. 

Embora os chineses tenham inventado o papel no Século II, ele demorou a ser disseminado pelo mundo, sem contar que em seus primórdios era um material muito frágil. Ao que tudo indica, sua disseminação pela Europa ocorreu por volta do Século VI ou VII e, até a invenção da imprensa por Gutemberg, em 1.455, a reprodução da Bíblia era feita por copistas.   


Alguns Métodos de leitura da Bíblia

Primeiro: 
Começar pelo livro do Gênesis e terminar no Apocalipse. Esse tipo de leitura nos dá grande conhecimento de toda a história da salvação, mas é muito demorada e às vezes árida.

Segundo:
Começar pelos Evangelhos. Primeiro conhecer Jesus, sua mensagem. E depois, à luz de Jesus, ler todo o Novo Testamento e só então o Antigo. Esse método nos permite descobrir a centralidade de Jesus na História da Salvação. Descobrimos que o Novo Testamento está escondido no Antigo e que o Antigo está presente no Novo.

Terceiro:
Combinar a leitura do Antigo e do Novo Testamento. Uma forma de fazer esta combinação é seguir os textos bíblicos das missas diárias. Nos folhetos de liturgia dominical, no final, estão os textos das missas daquela semana.

Quarto:
Leitura Orante da Bíblia (Lectio Divina) – é o método que tem como finalidade vivenciar a espiritualidade orante pessoal e comunitária a partir do texto bíblico. 

Um monge chamado Guigo, por volta dos anos 1.150, percebia que lendo o texto bíblico era possível reler o passado à luz do presente, trazendo uma grande contribuição para o futuro. Guigo sentia que a Palavra de Deus comprometia e que o conjunto dos livros que formam a Bíblia era tido dentro de uma unidade. Dentro dessa unidade, percebia que estavam presentes três níveis de compreensão: literário, histórico e o teológico. Cada um tem sua especificidade, o primeiro está mais próximo do texto, o segundo leva mais em consideração a situação histórica em que o texto foi escrito e o terceiro está diretamente relacionado com a mensagem de Deus.

Orígenes é o grande idealizador do termo Lectio Divina. Muitos traduzem Lectio Divina por leitura divina, outros por leitura orante. O que nos importa é o valor que esse método tem para nossa vida. A Lectio Divina é resultado da prática da leitura que os cristãos faziam e fazem da Bíblia. Essa prática usada pelos cristãos, já é um resquício da tradição das comunidades do Antigo Testamento. As comunidades liam os textos bíblicos que eram passados de geração em geração. As nossas Comunidades de Base adotaram o método da "leitura orante da Bíblia" como uma de suas principais formas de estudo bíblico.

Ele é formado por (4) quatro elementos, a saber, na seguinte ordem:
  • Leitura: (O que diz o texto?) procura escutar, conhecer o texto, tendo em mente o seu lado literário, histórico e teológico.
  • Meditação: (O que o texto diz para mim/para nós?) procura o contexto da vida ontem fazendo uma interpretação e atualizando o seu significado para hoje.
  • Oração: (O que o texto me/nos faz dizer a Deus?) procura diante dos dois passos anteriores, elevar uma oração a Deus (louvor, ação de graças, petição, interseção, adoração, canto..) mantendo um diálogo fraterno e amoroso com Ele.
  • Contemplação: (O que o texto me/nos faz enxergar, compreender, comprometer?) é o momento do engajamento, do compromisso, do guardar na memória e no coração para ruminar, testemunhar, anunciar, silenciar.




Como Citar Textos Bíblicos
Em primeiro lugar, se indica o livro, usando sua abreviação. Em seguida, com o primeiro número, indica-se o capítulo e com o segundo, separado do primeiro por vírgula, o versículo. Ex.: Gn 2,4 = Gênesis, capítulo 2, versículo 4.

- Com um hífen, unem-se capítulos ou versículos. Ex.: Ex 10, 1-10  =  Êxodo, capítulo 10, versículos de 1 até 10.  Ex.  1-10   =   Êxodo, capítulos de 1 até 10.

- Com o ponto e a vírgula(;), separam-se duas citações diferentes. Ex. :Lc 10;14; Mc 2, 1-4  =  Lucas, capítulos 10 e 14, e Marcos, capítulo 2 versículos de 1 até 4.

- Com um ponto (.), separam-se versículos dentro do mesmo capítulo. Ex.: Lc 4,2.8.18  =  Lucas, capítulo 4, versículos 2, 8 e 18.

- Com um (‘s’), acrescentado depois do capítulo ou versículo, entendem-se o, ou os capítulos ou versículos seguintes. Ex.: 1Cor 8s =  Primeiro Coríntios, capítulos 8 e 9. 1 Cor 8, 1s  =  Primeiro Coríntios, capítulo 8, versículos um e seguintes.

- Quando se indica apenas uma parte de um versículo longo, acrescenta-se uma letra ao número que indica o versículo: (a), quando é o início do versículo, (b), o meio e (c), o final. Ex.: Gn 2, 4a  =  Gênesis, capítulo 2, primeira parte do versículo 4.

Explicação das Pontuações
A vírgula (,) separa capítulo de versículo, ou seja, o número que antecede a vírgula, sempre é capítulo.
O ponto e virgula (;) separa capítulos e livros.
O ponto (.) separa versículo de versículo, quando não seguidos.
O hífen (-) indica sequência de capítulos ou de versículos.
Quando um versículo é muito comprido ele é dividido em duas, três, quatro partes. Neste caso usam-se as letras a, b, c, ou d após o número do versículo.

O Povo da Bíblia
A Bíblia surge no meio de um povo do Oriente, o Povo de Israel. Este Povo cria uma literatura que relata sua história, suas reflexões, sua sabedoria, sua oração. Toda essa literatura é inspirada pela sua fé no único Deus que lhes revela: ‘Estou sempre com vocês’.

A Bíblia é o reflexo de uma vivência do Povo com seu  Deus e de Deus com seu Povo. Deus está na história do Povo, e, por isto, está na Bíblia. Por sua vez, a Bíblia vai ajudar o Povo a viver. É Deus, através da Bíblia, que anima e orienta seu Povo para continuar a lutar e viver e nunca desanimar. É por tudo isto que dizemos que a Bíblia é a Palavra de Deus. Revelação de Deus.

O Povo da Bíblia mora perto do mar Mediterrâneo, no Oriente Médio.

Inicialmente é um grupo de migrantes, vindos da Mesopotâmia (hoje Iraque). São chamados HEBREUS e descendem de Abraão.
Muita gente quer ser dona da terra onde moram esses hebreus. Os Cananeus, outros moradores de lá a chamam de CANAÃ. Os Israelitas a chamam de ISRAEL. Mais tarde será chamada PALESTINA: terra dos filisteus.

Para se entender a Bíblia é preciso fé no Deus vivo presente e atuante na história da humanidade, daí porque se diz que Ela não é um livro como qualquer outro.

O Povo que viveu e escreveu a Bíblia escolheu a palavra ‘Aliança’ para explicar seu relacionamento com Deus:

- O Deus que conversa, que questiona  (Gn 3, 9s)
- O Deus ‘que nos tirou do Egito, da escravidão’ (Êx 13,3)
- O Deus que habitou entre nós (Jo 1, 14)

Faremos mais um "stop" aqui, para que a leitura não fique muito longa e cansativa. Convém lembrar que para estudar a Bíblia, uma das virtudes mais necessárias é a persistência. Estamos na quarta parte das "informações gerais" e provavelmente, teremos ainda mais duas partes. Mas tudo isso é essencial para que aprendamos e entendamos melhor o texto bíblico. 

Até mais...

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